segunda-feira, 27 de abril de 2015

Quantos filhos da puta mandam no mundo,
perguntaste ontem,
a mesa cheia e um medo diluído no ar,
quantos filhos da puta mandam no mundo,
repetiste,
eu comecei então a contagem,
e ainda não a acabei,
desculpa.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

(4)



Lá fora o cinzento do céu cola com cuspo a ocupação das pessoas. A vida acontece e é tão pouca. Gostava de envelhecer só para deixar de ser ignorante. Mas envelhecer mata.

(3)

Quem inventou esta merda não sabia o que fazia mas fez o que pôde. Se Deus existir vou adorar ensinar-lhe a impotência. Mostrar-lhe que a impossibilidade nos faz voar. E que é a ocorrência de mágoas a representação da perfeição. 


(2)


Demora mais um beijo do que uma bala. A velocidade de deslocação do abraço é tão lenta. Talvez tudo seja pensado para acabar. A eternidade dava mais trabalho, parece-me evidente.



(1)


Fala-se para que o ruído impeça as lágrimas. As palavras são manobras de diversão. Deus é a existência de silêncio, o espaço exacto por onde a dor entra e sai com a mesma destreza. É imperioso calar como é imperioso existir. Esquecer não é uma possibilidade; é uma necessidade. Quando era pequeno os adultos eram apenas ambições inacabadas. Ainda são.